segunda-feira, 13 de novembro de 2017

EN2 - Pelos caminhos de Portugal #1/3

Durante as minhas férias de 2015 e aproveitando uma deslocação a Valpaços para assistir às corridas do Circuito Motorizado local, não quis deixar passar a oportunidade para percorrer de mota toda a Estrada Nacional 2, a nossa “estrada mãe” (por analogia com a famosa Route 66 nos EUA, também conhecida como Mother Road).

A Estrada Nacional 2, abreviadamente designada por EN2 (ou simplesmente N2) é a estrada de maior extensão do país, ligando a cidade transmontana de Chaves à capital algarvia Faro, num total de cerca de 740 km, atravessando 8 províncias, 11 distritos, 34 concelhos, 4 serras e 11 rios de Portugal Continental.

Estrada Nacional 2, cerca de 740 km de Chaves até Faro. 

Verdadeira espinha dorsal da rede rodoviária nacional, a EN2 passa pelos distritos de Vila Real, Viseu, Coimbra, Leiria, Castelo Branco, Santarém, Portalegre, Évora, Setúbal, Beja e Faro, numa autêntica viagem pelos caminhos de Portugal, qual canção popular(ucha) de Mário Gil: “Pelos caminhos de Portugal, eu vi tanta coisa linda, vi um mundo sem igual (...)”.

Um pouco de história

O traçado da EN2 confunde-se com a própria história, sendo que muitos segmentos já eram as principais vias romanas que atravessavam a Lusitânia. Com o passar do tempo, as principais vias foram sendo melhoradas e ligadas umas às outras e até ao final do séc. XIX, grande parte daquela que é hoje a EN2 já era Estrada Real.

Em 1884, o percurso de Faro a Castro Verde passa a designar-se Estrada Distrital n.º 128.
Com a implantação da república a estrada chega a Beja e ganha o título de Estrada Nacional n.º 17, passando a chamar-se mais tarde a Estrada Nacional n.º 19 - 1.ª.

Um dos grandes projectos do Estado Novo era a criação de uma estrada para ligar o país de lés-a-lés pelo centro. A partir de 1930 começaram a ser alcatroados os troços de pedra e de terra e construídas as ligações necessárias, até que em 1944 é inaugurada a Estrada Nacional n.º 2 (o Decreto-Lei 34:593 de 11 de Maio de 1945, relativo ao Plano Rodoviário Nacional, estabelece normas para a classificação das estradas nacionais, municipais, caminhos públicos e fixa as respectivas características técnicas, consagrando assim, entre outras, a EN2).

Apesar de a EN2 ter sido o resultado da “colagem” de pequenos troços que ligavam as povoações próximas e, por sua vez, estas povoações a outras mais distantes, constituindo assim uma autêntica “manta de retalhos” que foi sendo rectificada e melhorada ao longo dos tempos, a estrada apresenta-se, de um modo geral, bem conservada, embora existam alguns troços onde foi “despromovida” de Nacional a Regional, nomeadamente entre Penacova–Góis, Portela do Vento–Pedrogão Grande, Mora–Ervidel e Aljustrel–Castro Verde, passando a designar-se nestes locais como R2 em vez de N2. 

O troço que liga Almodôvar a São Brás de Alportel foi classificado em 2003 como a primeira (e única) Estrada Património, devido ao riquíssimo património que a envolve.

O último marco 1 conhecido foi, durante muito tempo e à data desta viagem, o do km 737 à entrada de Faro, até que em Maio de 2016 foi recolocado o marco do km 738, no cruzamento com a Avenida Calouste Gulbenkian (37º01'33.1"N 7º55'55.6"W), para terminar um pouco mais à frente (km 738,5) no cruzamento com a Rua General Teófilo da Trindade (37º01'15.4"N 7º55'59.8"W).

Preparação

O entusiasmo tem crescido nestes últimos anos em torno desta emblemática estrada por parte de aventureiros em duas ou em quatro rodas (motociclistas, caravanistas, ciclistas, etc.), especialmente após a publicação da reportagem da viagem do Prof. João Catarino, que em Julho de 2009 se fez à estrada com uma carrinha VW “pão de forma” de 1973 e durante 4 dias percorreu os muitos quilómetros de curvas, rectas, altos e baixos desta estrada cheia de história, tendo ficado encantado com as paisagens e as gentes que encontrou no caminho.

Dois anos depois, no final do Outono de 2011, a empresa Espaços Sonoros criava um evento único no panorama motociclístico nacional ao qual chamou EN2 – A mais longa estrada....
Destinado a motociclistas experientes, este “passeio” consistia em percorrer num só dia toda a EN2, de Chaves a Faro, parando apenas para comer e reabastecer! Esta autêntica maratona em duas rodas foi novamente realizada no ano seguinte, sempre com forte adesão por parte dos destemidos motociclistas nacionais.

Preparação da viagem.

Quando comecei a preparar esta minha viagem pela EN2, uma das primeiras questões que importava responder prendia-se precisamente com a duração da mesma.
Para conseguir tirar algum partido da grande diversidade de paisagens e locais em presença ao longo de todo o percurso, cedo ficou claro para mim que percorrer a EN2 num só dia estava fora de questão. Mas também achei que quatro dias talvez fossem demais para uma primeira abordagem, pelo que optei por uma solução intermédia de dois dias para cumprir as mais de sete centenas de quilómetros, com uma paragem sensivelmente a meio do percurso para pernoitar.

Tratando-se de uma viagem turística, o que verdadeiramente me motivava era conhecer e apreciar a grande diversidade dos locais, da cultura e também das gentes das terras por onde iria passar. 
Sabendo que, em regra, a estrada nacional corresponde à via principal que atravessa o centro das localidades, recorri a alguns mapas em papel e a conhecidas ferramentas informáticas para delinear o trajeto a seguir (Via Michelin, Google Maps e Google Earth), isto apesar de alguns troços da EN2 terem sofrido alterações em relação à sua configuração original, como são os casos da zona da Foz do Dão (Barragem da Aguieira) e de Vila de Rei até Abrantes, entre outros, o que dificulta um pouco a tarefa de definir o traçado nestes locais.

Continua... 

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1 Os marcos hectométrico, quilométrico e miriamétrico pertencem ao grupo dos sinais complementares. O marco hectométrico é colocado de 100 em 100 metros, subdividindo o intervalo entre dois marcos quilométricos (contém a indicação do hectómetro completada com a indicação do quilómetro). O marco quilométrico identifica a via e indica a distância quilométrica ao seu ponto de origem. O marco miriamétrico assinala a via e indica a distância, por cada 10 km, ao seu ponto de origem.

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