sexta-feira, 10 de abril de 2015

Museus e Colecções Particulares #9

Colecção de Frederico Valsassina

Quando se fala em coleccionadores de motas antigas e clássicas na zona da grande Lisboa, Frederico Valsassina é uma referência incontornável na matéria.

Fruto de uma enorme paixão que desenvolveu desde muito cedo, o conhecido Arquitecto lisboeta (que gosta de colocar “as mãos na massa” para restaurar as suas máquinas) tem um grande carinho pelas motas inglesas e, dentro destas, o destaque vai para a icónica marca criada por James Lansdowne Norton em 1898 e originalmente sediada em Birmingham: a Norton. 

De portas abertas... Via

A História

Frederico Raul Tojal de Valsassina Heitor nasceu em Lisboa em 1955. Bisneto do fundador do reputado Colégio Valsassina (situado na Quinta das Teresinhas, Lisboa) e neto materno do Arq.º Raul Tojal, Frederico frequentou este colégio gerido pela sua família entre 1960 e 1972, licenciando-se em arquitectura em Julho de 1979 através da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL).

Com um trabalho amplamente reconhecido a nível profissional (que inclui o prestigiado Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura em 2004), Frederico Valsassina é igualmente um verdadeiro apaixonado pelas motas clássicas e, mais recentemente, pelas motas antigas. 

Motas antigas em restauro (duas FN de 1912 e 1913). Via

Valsassina vive e trabalha na Capital, mas é na verdejante zona do Parque Natural de Sintra-Cascais (que tem como ex-líbris a Vila de Sintra, Património Mundial da UNESCO) que retempera forças durante os fins-de-semana. É também aqui que guarda a sua preciosa colecção de mais de seis dezenas de exemplares, a qual inclui também alguns automóveis clássicos.

Segundo o próprio, tudo começou porque o seu pai não o deixava comprar uma mota. Entretanto a família comprou uma Norton ao Chefe da Banda de Colares e, mais tarde, o seu pai finalmente acedeu a deixá-lo comprar a tão desejada mota. O jovem Frederico adquiriu então uma Prior Hercules, que acabou por ser a única mota nova que teve... 

As motas clássicas tornaram-se assim no seu hobby e com o passar dos anos a colecção foi evoluindo em quantidade e especialmente em qualidade, ao ponto de há uns tempos atrás ter recebido a visita de membros do Norton Owners Club (no âmbito do NOC International Rally – Portugal 2006) que ficaram verdadeiramente impressionados com todos estes exemplares.
“Eu gosto de Norton essencialmente porque, dentro das motos antigas, era uma moto virada para a competição, não tem luxos, tudo é fácil de desmontar”, explica Frederico.

As Norton são a grande paixão de Frederico Valsassina. Via

É precisamente graças à qualidade da sua colecção particular, que Frederico Valsassina tem recebido vários convites para expor as suas beldades em exposições e feiras, tais como a grande exposição As Motos do Século, o Século das Motos realizada em 2000 na FIL (Parque das Nações, Lisboa), organizada por Pedro Pinto e ilustrada pelo magnífico livro com o mesmo nome editado pela Parque Expo 98 (onde se encontram 7 motas suas), ou o Concurso de Elegância do Cascais Classic Motorshow 2013 que decorreu no Hipódromo Municipal Manuel Possolo, em Cascais. 

Algumas das suas Norton no Concurso de Elegância do Cascais Classic Motorshow 2013. Via

Também no livro A Evolução da Moto da autoria de José Miguel Mira (que aproveitou o 30.º Passeio de Motas Antigas do Moto Clube de Sintra para efectuar uma apresentação aos motociclistas presentes) figuram algumas das suas magníficas motas.

Felizmente já tive o prazer de admirar in loco alguns destes belos exemplares, nomeadamente durante as edições de 2010, 2011 e 2012 do Salão Motorclássico (FIL, Lisboa), sempre presentes no espaço reservado ao ACP Clássicos. Na 6.ª edição do Salão figurava a extraordinária Norton Manx M30 500cc de 1953 que pertenceu ao campeão António Pinto (filho de outro grande campeão, Inocêncio Pinto) e foi Campeã Nacional nas décadas de 1950/60, na 7.ª edição encontravam-se duas Norton dos anos 30 (uma delas a CS1 500cc de 1933), finalmente na 8.ª edição podiam ser vistas duas magníficas Vincent, uma Comet 500cc de 1954 e uma HRD Rapide 1000cc de 1953 (esta mesma Vincent HRD Rapide já tinha sido considerada a melhor mota presente no Passeio do MC Sintra de 2011). 

Vincent HRD Rapide 1000cc de 1953 na 8.ª edição do Salão Motorclássico (2012).

No que respeita a outras marcas icónicas, Frederico confessa que não tem nenhuma Harley-Davidson porque não fazem parte do seu imaginário... Em relação à BMW e em jeito de picardia, refere que “(...) quem gosta de Norton não gosta de BMW e têm uma caixa horrível!”.

A colecção

Apesar das motas inglesas serem o tema principal da colecção de Frederico Valsassina, as máquinas italianas, francesas, alemãs, belgas e portuguesas também fazem parte deste espólio, impecavelmente restaurado pelo próprio, que prima acima de tudo pela qualidade dos modelos existentes. 

No interior da garagem, com a Norton Manx M30 de 1953 (ex-António Pinto) em destaque. Via

De entre os inúmeros exemplares que constam na sua garagem, as motas de competição são sem dúvida dos mais importantes, não só pela sua singularidade (e raridade) como pela sua história, outrora pertencentes a figuras de topo do motociclismo nacional, tais como António Pinto e Ângelo Bastos, entre outros.

Para além da já referida Norton Manx M30 de 1953, outra inglesa se destaca graças ao seu glorioso passado: a Rudge-Whitworth Special TT 500cc de 1930.
E a história de como este exemplar lhe chegou às mãos não é menos interessante: “(...) eu era miúdo e fui com os meus primos, aí 1971/72, ao John Bull, beber uma cerveja, como os miúdos todos aqui da praia iam. Chegámos lá e metemo-nos na conversa com outros e gostas de motos e não sei quê... é pá vai a minha casa, ao jardim, que a minha mãe vai deitar fora a moto que era do meu avô. Fomos a casa pedir o carro à minha mãe, que tinha uma Diane, metemos a moto dentro do carro e trouxemos isto. Esteve anos a ser desmontada. Entretanto, quando eu comecei a perceber o que era, escrevi para o clube da Rudge, em Inglaterra, e eles disseram que eu tinha uma peça inacreditável. Esta moto foi campeã do mundo em 1930, veio para Portugal em 1933 para o Ângelo Bastos correr e ele ganhou tudo possível. (...) Na altura pus-lhe o número 17 porque tinha 16 motos restauradas e esta era a 17ª”.

As motas de competição: Rudge-Whitworth Special TT n.º 17 de 1930 (ex- Ângelo Bastos), Norton CS1 n.º 7 de 1933, Norton Manx M30 n.º 65 de 1953 (ex-António Pinto) e Norton 650 SS n.º 21 de 1961. Via 
  
As desportivas e inovadoras máquinas italianas do pós-guerra (anos 50 e 60), claramente contrastantes com um maior conservadorismo patente nas máquinas inglesas dos anos 30 e 40, também têm aqui o seu espaço.
Entre as 50cc destacam-se as Itom (Industria TOrinese Meccanica) e Santamaria Zündapp.
Nas cilindradas maiores encontram-se modelos como a Aermachi/Harley-Davidson Ala Verde 250cc ou a Ducati Elite 200cc.

As Itom (Industria TOrinese Meccanica) e Santamaria Zündapp encontram-se entre as melhores motorizadas transalpinas dos anos 50 e 60. Via  

A produção nacional está representada pela quase exclusiva Caravela “Praia das Maçãs” com motor Sachs de 50cc, um exemplar extremamente raro construído nos anos 50, na oficina ‘Ciclo-Reparadora’ de António Jacinto Canastro na Praia das Maçãs (Sintra), a partir de peças e componentes existentes no mercado. 

Caravela “Praia das Maçãs” com motor Sachs de 50cc dos anos 50. Via

Uma pequena secção dedicada aos modelos militares, onde se incluem uma Norton 16H 500cc de 1939 e uma BMW R12 750cc c/ sidecar de 1941, entre outros.

Motas militares, com a BMW R12 750cc c/ sidecar de 1941 em primeiro plano. Via

Curiosa Norton com sidecar Swallow pertencente à Comissão Venatória Regional do Sul.
Estes veículos foram utilizados durante os anos 60/70 pela Guarda Venatória (Guardas Especiais de Caça) em acções de fiscalização no âmbito da caça. A partir de 1974 foram admitidos mais Guardas para as Comissões Venatórias, tendo como transportes veículos todo-o-terreno Portaro e motorizadas. No final dos anos 70/princípio de 80, as Comissões Venatórias (pessoal, bens móveis e imóveis) foram integradas nos Serviços Florestais.

Norton com sidecar da Comissão Venatória Regional do Sul – Fiscalização da Caça. Via 

A famosa scooter italiana Vespa da Piaggio, criada em 1946 por Corradino D'Ascanio, é um must em qualquer colecção de motas clássicas. Aqui encontram-se vários modelos com diferentes motorizações e características (incluindo sidecar), como a Faro Basso 125, a Super Sprint 90, a GS 150, etc. 

As famosas scooters italianas Piaggio Vespa também lá estão. Via

Para além das Norton International (modelo 30 500cc 1932, modelo Garden Gate 30 500cc 1947, modelo 30 500cc 1955, modelo 40 350cc 1957), outras inglesas de renome fazem parte da sua colecção, como as duas Rudge dos anos 30, a Velocette MSS 500cc de 1939, a Vincent Comet 500cc de 1954 e a Vincent HRD Rapide 1000cc de 1953, só para citar algumas (a cereja no topo do bolo seria a presença de uma Coventry-Eagle Flying 8 ou de uma Brough Superior SS100, por exemplo).

Outras inglesas: Duas Rudge, Velocette MSS 500cc de 1939, Vincent Comet 500cc de 1954 e Vincent HRD Rapide 1000cc de 1953. Via

Muitos e bons motivos para Frederico Valsassina se orgulhar da sua colecção particular. 

Informações

Morada: Zona do Parque Natural de Sintra-Cascais
Não se encontra aberto ao público.

NDR: Agradeço ao Arq.º Frederico Valsassina os esclarecimentos prestados para a elaboração deste artigo.

Fontes: Revista “MCV – Motos Clássicas & Vintage” n.º 2 (Agosto 2010), Livro “A Evolução da Moto” (José Miguel Mira), Porsche Club 356 Portugal, C4 – Crew Classic Car Club e Rio das Maçãs

Sem comentários:

Enviar um comentário